As novas gerações atravessaram a barreira da sexualidade, mas estabeleceram outras fronteiras para o proibido. O jovem pode ficar na balada com mais de uma pessoa, beijar e ter intimidades físicas de toda ordem. As interdições agora são outras.
Meninas aprenderam a rejeitar antes de serem rejeitadas. Preferem nem correr o risco de dar o telefone à cair na angústia da espera do dia seguinte. Pra que? Eu sei que ele não vai ligar mesmo… No caso dele, mesmo que esteja super afim de ligar tem que esperar uns dois, três dias, senão parece que está desesperado ou pegando no pé.
O jogo da imagem tem prevalência sobre a expressão do afeto e este pode acabar tão reprimido, que quando se quer encontrá-lo, anestesiado, ele já não responde. Não se consegue acessar mais o que se sente.
Homens e mulheres adultos imaturos também têm dificuldades em demonstrar seu desejo pelo outro, porque “pega mal”; temem o compromisso e o envolvimento. O desejo é muito mais investido na imagem, em como se é percebido, no status social que uma certa companhia oferece, do que no prazer da própria experiência. A própria terminologia vigente já denuncia o que é valorizado: “pegou quantas?”. A satisfação é de cunho narcísico, dissociada do contato com o próprio corpo.
A independência afetiva e a auto suficiência estão no topo da nova lista de necessidades, encobrindo o medo contemporâneo de se sentir dispensável. Contra a dor da rejeição aparece a equivocada tentativa de blindar o sentimento.
Nos pensamos livres, mas estamos seduzidos pela velocidade do mundo e suas ofertas. Tudo rápido, superficial e descartável. Acreditamos que, se escolhermos e nos comprometermos aqui, podemos perder uma possibilidade muito melhor ali adiante. E sofremos, porque nesta dinâmica em que o bom está lá na frente, não existe preenchimento e bem estar, só voracidade e ansiedade.
Talvez muito das patologias atuais se expliquem por aí. Curiosamente a tentativa de saná-las opera dentro do mesmo desvio: rápido!, um remédio que me ajude a sair desta. Perde-se a diversidade da experiência humana, seus tons e relevos e qualquer coisa que não seja do âmbito da expansão e da alegria passa a ser vivido como intolerável; blues só na música e olhe lá.
Amar é perigoso, pode machucar. Requer audácia e demanda tempo: ver o outro, me reconhecer nele, me estranhar, estranhá-lo. É tão transgressor que está proibido.
foto banner: imagem do LIVRO VERMELHO de C.G. JUNG
Elza Tamas é psicologa e escritora. Idealizou e desenvolve este site.
foto : Mario Bock