O maior inimigo do vinho é o desejo. Porque a tirania dessa insatisfação faz que o prazer seja sempre jogado para o futuro, para a próxima garrafa, para o vinho do vizinho de mesa, para a safra que nunca tivemos.
Lembro bem de Buñuel dizendo nas suas memórias: “que alívio foi parar de desejar”.
O melhor vinho é o atual, é preciso que seja, o que está aberto na nossa mesa.
Se tenho um Latour 82 mas quero o Lafite 82, sou infeliz. Se tenho o Lafite 82, finalmente, quero um Montrachet, isso não tem fim.

O presente é a única coisa próxima do real que tocaremos na vida.
O presente dominado pelo passado é infernal. o presente que aspira pelo futuro o tempo todo, ou seja, o presente prenhe de desejo, é uma catástrofe.
O melhor vinho, o mais desejado, precisa ser o que acabo de desarrolhar. A melhor harmonização sempre é da comida que está no prato com o vinho que está na taça. Hugh Johnson, grande crítico de vinhos inglês escreveu nas suas deliciosas memórias, “A life uncorked” (cito de memória, talvez invente um pouco, mas sou fiel ao que ele queria dizer): antes do transporte veloz, dos sistemas de estocagem eficientes, dos catalógos gordos e brilhantes de importadoras, as pessoas comiam o queijo da região, a carne, a caça, o peixe da região, com os vinhos que produziam. Se era peixe e tinto, perfeito, era o que tinham consumido desde sempre e consumiriam até o término de suas vidas. A ampliação das possibilidades, o aumento da vitrine do desejável, aumentou nossa angústia da escolha, nos tornou imensamente infelizes.
Abaixo o desejo! Viva o hic et nunc.
Brindo a isso.
Brindo a isso.
.
……

são paulo. morou aqui e ali, de maneira nomade, já se esqueceu de onde nasceu, não
sabe para onde vai, apenas vai. todas as suas viagens são uma tentativa de
chegar a paris, ainda mais agora, pois é onde está quem lhe dá sentido. mora em
sao paulo com sua gata frederica.